Pular para o conteúdo principal

O saber é poder

 Alguns textos atrás, tive a oportunidade de escrever sobre o poder e suas várias formas de ser concebido e conquistado. Nele, usei a frase tema desta reflexão: Saber é Poder. Tentaremos abordar como que o saber se transformou em forma de dominação do outro.

Quando era estudante de Filosofia, recordo de um professor, nos primeiros semestres do curso, utilizar um pensador chamado Maurício Tragtenberg, que escrevia, a luz do pensamento de Foucault, sobre a expropriação do saber, ou seja a retirada do senso critico dos alunos, aos moldes do " vigiar e punir" impostos pelos professores. Sua teoria é pautada na Pedagogia Libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.

Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica- burocrática permite a dominação na medida em que reduz o papel de mero receptáculo de conhecimento e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa. É nessa ordem que o professor é o " símbolo da dominação".

Ou seja, todas as relações humanas, são relações permeadas pelo poder. Desde o processo educacional, o individuo é posto na tensão entre ele e o professor, onde o professor, através do dominio do saber, exerce o poder sobre o aluno. Esse é o contexto social inicial do poder: A Escola.

Na escola, o processo da célebre ideia de  Michel Foucault, " Vigiar e Punir" toma força. No processo inicial da vida, as crianças começam a ter noção de limites dentro do espaço escolar. Nas suas atividades, tanto físicas quanto intelectuais são supervisionadas por aqueles que detém o poder, ou seja os professores, dando sentido a palavra "Vigiar".  No sentido de "Punir", vem as questões das avaliações, não porque as provas são punições, mas o empenho pelo qual os alunos passam, dão a tônica de punição nas notas. O que vale ressaltar, é o exercicio de poder que ambos, tanto na vigilância quanto na punição, ha. Essa tensão que permeia desde a tenra idade da a condição das tensões de poder. Isso se enraiza e segue as fases da vida. É método. 

Para que seja superado essa tensão de poder pelo saber, o autor emfatiza a necessidade da Educação como prática libertadora, aos moldes de Paulo Freire, que se baseia na autogestão, na interação entre alunos e professores e o produto final desenvolvido frente a sociedade. Outro ponto é a autonomia do individuo, mostrando que o sujeito não é meio, mas fim em si mesmo, despertando a consciência de sua responsabilidade sobre sua educação e sobre o mundo, criticando as premiações meritocráticas e as normas pedagógicas autoritárias. E por último, a solidariedade, produto final do processo, mostrando a coletividade como primazia frente ao individualismo. É uma educação social. 

Portanto, a frase que dá norte ao nosso texto é de grande valia porque sim, saber é poder. O conhecimento permeia as relações de poder e o exercicio entre as relações. A esperança, como usa o Tragtenberg, é que a educação deixe de ser competição e seja realmente construção de sujeito novo, emancipado, dono de si, refletindo e agindo sobre o mundo, usando o poder do saber a favor de todos. Assim, o saber cumpre seu papel, sendo semeador da igualdade. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que sobrou da eleição municipal de 2024

 Depois de um tempo afastado daqui, talvez por falta de tempo ou vontade, retomamos nossas reflexões. Passado as eleições municipais de 2024 onde escolheu-se os mandatários e legisladores para os próximos 4 anos é importante fazer um balanço final e quais as projeções para a eleição de 2026, que está logo ali.  O primeiro ponto a se evidenciar é de que o eleitorado majoritariamente reelegeu seus governantes. Nisto clarifica-se um conservadorismo frente à novidade. Se fizermos o recorte das capitais dos 26 estados, 16 obtiveram êxito no pleito. Mostra um recado importante do eleitorado. Se não for algo que impacte, não emplaca.  Outro ponto a se levar em consideração é a consolidação do espectro do chamado "centro" político. O eleitor, ao contrário das eleições de 2018, 2020 e 2022 tentou de certa forma sair um pouco dos extremos. Se olharmos para os dois partidos que saem extremamente vitoriosos nesta eleição, o MDB, este sempre com a base municipalista forte e o novo que...

Donald Trump: A volta dos que não foram

 Depois de um tempo fora dos escritos, por inúmeros motivos ou desmotivos, estamos de volta para mais um ano de análises sobre os fatos que nos cercam. Resolvi começar o ano falando da volta (ou quase) de Donald Trump a Casa Branca. Iria escrever na época da eleição mas resolvi escrever agora com sua posse em 20 de Janeiro de 2025 para mais um mandato como presidente de um dos países mais poderosos do mundo.  Primeiramente, deve-se olhar para os EUA e a condição que se encontra. Foi extremamente importante para a volta dele. Um país que vive uma crise econômica que resultou em uma inflação, algo que o americano não sabia lidar, aliado a um governo desastroso em vários aspectos como foi do democrata John Biden. No fim, com a popularidade extremamente baixa, desde o princípio, sempre teve a sombra de Trump no seu encalço. Este, nunca deixou as trincheiras da eleição. Na derrota em 2020, acusou de sabotagem, ajudou na insurreição do Capitólio e continuou andando o país com sua ag...

Quaresma: Tempo de voltarmos a Deus

 A Quaresma é um tempo litúrgico significativo para os cristãos, marcado por quarenta dias de preparação para a Páscoa. Durante esse período, a Igreja nos convida a refletir sobre nossa vida espiritual, a praticar o jejum, a oração e a caridade, buscando uma reconciliação mais profunda com Deus e com os outros. É um tempo de conversão, de renovação interior, onde somos chamados a voltar nossos corações para Deus e a nos afastar do pecado, como forma de nos preparar para a celebração da Ressurreição de Cristo. As Sagradas Escrituras nos oferecem diversas passagens que nos orientam sobre como viver bem este tempo de conversão. No Livro do Profeta  Joel 2:12 , ele nos exorta: "Agora, ainda é tempo — diz o Senhor —, voltem para mim de todo o coração, com jejum, choro e lamento." Esta passagem nos ensina que o arrependimento e a conversão devem ser sinceros e profundos, não apenas externos, mas envolvendo o coração e a alma. Mas como podemos voltar a Deus? Em primeiro lugar, preci...