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Vigiar e Punir

 Resgatando o processo filosófico neste período fumacento que vivemos, recordo a presença do filósofo francês Michel Foucault no seu célebre livro " Vigiar e Punir" e todas as formas de sujeição e controle de corpos, acrescido ao processo pós-moderno. Vejamos alguns pontos de seu pensamento. 

No seu livro, Foucault desenvolve o processo do nascimento da prisão como sujeição de corpos, em forma de controle e disciplina do indivíduo. Neste sentido, o conceito de Pan- óptico de Bentham é contemplado em sua totalidade, estendendo-se da prisão para os hospitais e as escolas. A forma de controle, disciplina e castração dos indivíduos faz com que se molde para onde tiver interesse. Esse é o processo, uma eterna vigilância e punição. 

Quando olhamos para o momento vivencial, a chamada pós-modernidade, consegue-se perceber com nitidez o processo do vigiar e punir. As estruturas microfísicas de poder usam-se de processos maquínicos e métodos desonestos para se perpetuar no poder. Penso que as relações entre a  narrativa e a coisa falada, ou seja, entre o sujeito e o objeto e sua representação, estão distorcidas. Não é por acidente. Atente-se aos detalhes, tudo é provocado, não provocador. É método. 

No espectro psicanalítico, está presente o controle como castração.  Em nosso tempo, não existe equilibrio. Ou tudo é permitido, beirando a orgia como conceito ou nada é, beirando a castidade. O pêndulo da vida hoje para nos extremos. Não se tem um equilibrio, ou melhor uma tentativa de equilibrio. A pós modernidade e a informatização mostrou que o processo é de caos. A balança deve ser desequilibrada. O caos é necessário, para que na neurose, sendo coletiva, qualquer um se coloque como o ponto de equilibrio. É o poder através do medo. É  o poder pela castração. 

Acredito que exista muitas prisões em nosso tempo. Só olharmos ao redor, e não precisa ser tão críticos e ter um olhar tão apurado. Apenas refletir. Quanta neurose, quanto intoxicação causada como fumaça, através das mídias, das fakenews e assim por diante. Neste sentido, cria-se, arquiteta-se formas de elevar e derrubar indivíduos, como se fossem apenas números, ou peças para se chegar e perpetuar-se no poder. As prisões segundo Foucault, moldam-se e mudam de acordo com seu tempo. É perceptível isso.

Sempre digo que o pensamento de Foucault vive. E como é presente em nosso meio. Ele, que escrevou no fim do século XX, mostra como as sociedades tem o poder como estrutura basilar. É  o biopoder, que tornou-se organismo vivo da humanidade.

Sejamos sutís e dóceis aos detalhes. Não sejamos ingênuos. Em tudo há o poder. Em tudo há a vigilância e a punição.

Mais uma vez, e sempre, 

Foucault vive! 




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