Paralelamente a sequência de textos relativos a história política brasileira, continuarei escrevendo sobre filosofia e psicanálise. Neste texto, escreverei sobre os afetos e suas consequências no desenvolvimento psíquico do sujeito.
Como um bom leitor de Jacques Lacan, partirei do princípio de que afeto para ele é uma manifestação pulsional, que não seria de forma imediata, bruta, mas sim a deriva de forma deslocada, invertida do sujeito. O afeto é algo que nos move, nos desloca do ponto onde estamos. Ele é aquilo que mexe com o íntimo de cada um . Para Lacan, são derivações da paixão. Nisto recorre-se a Freud, quando a partir das paixões ,elenca-se três: A ignorância, o amor e o ódio. Elas, paíxões do ser, que tocam o ser do sujeito. Para combinar essas três paixões, Lacan apresenta o simbólico , produto da ignorância, o imaginário, produto do amor e o real, produto do ódio. . Tudo isso na constituição do ser.
Se analisarmos cada ponto explicitado, percebe-se a lógica em cada ação e reação. Para a paixão pela ignorância, recorre-se aos símbolos, que nada mais são que produtos da linguagem, que neste caso se torna desviada para um fim, que por vezes, e em quase todas é manter o individuo perdidamente apaixonado pela sua ignorância. Por exemplo um individuo que tem uma traição conjugal, ele viu, presenciou o fato, prém se apega ao símbolo do casamento feliz e indissolúvel: Portanto não se divorcia. Isso é a paixão pelo simbolo, não pela coisa real.
Na questão do amor, vem as deduções, induções e hipóteses fruto da imaginação. O amor se alimenta do imaginário, ou seja do imago, da imagem projetada de algo que se espera. O amor necessita de imaginação. Quando se está apaixonado por outra pessoa, se vislumbra o futuro, se projeta imagens de como será daqui um minuto, um ano, dez anos. O gatilho mental do amor é alimentado pela imagem. Neste sentido, a partir do afeto construido, se revela a angustia, que é o afeto mais puro e sem vicios: o de não ter mais o objeto ou na relação humana a pessoa imaginada. Portanto, o amor tem por natureza, arrastar o sujeito ao seu campo imagético, seu campo imaginário.
Por fim, o ódio, o avesso do amor. Esse para Lacan é o produto do real. Diferente do amor e da ignorância, o ódio nos arrasta pelo concreto áspero do real. Só se odeia quando se desnuda tudo. O real não permite vicios, ignorância, imaginação, portanto só se odeia o que é real, o que é posto em si. Na relação humana, a linha entre o amor e ódio é muito tênue, por ser muito próximos, por moverem-se perigosamente com a frustração. Enquanto o amor trabalha o hipotético e o imagético, o ódio transcende isso e aplica seu golpe fatal: O que é de fato. Se fosse dar um exemplo, daria no sentido do vislumbre de um casal apaixonado que se casa, que se ama porém ama apenas as qualidades não os defeitos. Neste sentido, vislumbraram-se pessoas perfeitas e quando se dão conta dos defeitos (olhe o real arrastando pelo concreto áspero) frustram-se. Neste sentido, nasce o ódio, pela frustração da realidade imaginada não ser o real. O ódio é o produto do real por não deixar o sujeito deslocado, disforme, mas em sintonia.
Neste sentido curar-se pelos afetos é de suma importância para a vida do sujeito. Entender em qual estágio de paixão vc está. Não deixar que a razão seja apanhada de surpresa pela emoção e pelo sentimento. Cada qual no seu lugar e na dose certa.
Não existe relações humanas perfeitas. Existe a aceitação da situação ou a mudança. Tudo depende de quanto sua maturidade consegue suportar.
E para mim, nada melhor que a célebre frase de Jacques Lacan:
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