Voltando a falar sobre política, visto que as eleições se aproximam, com as convenções partidárias ratificando seus candidatos, pensei por bem fazer uma série de textos sobre os presidenciáveis já homologados. Reitero que está série falará um pouco sobre sua história e sobre as perspectivas e nuances de sua candidatura, o que isso implica e afeta no panorama. Inicio com o leão de Sobral, o rei do Ceará, o ex- ministro Ciro Gomes que é candidato do PDT.
Ciro Ferreira Gomes, advogado, escritor e professor universitário nasceu em 1957 no interior de São Paulo. Desde cedo, mudou-se para o Ceará, onde fez sua carreira política inteira, onde foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, governador do estado do Ceará. Em Brasilia, foi deputado federal, ministro da fazenda do governo Itamar e da integração nacional do Lula. Sua saga como candidato a presidência do Brasil começa em 1998 pelo extinto PPS (hoje Cidadania), em oposição ao então candidato a reeleição Fernando Henrique Cardoso do seu ex-partido PSDB e a Luiz Inácio Lula da Silva do PT que tinha como seu vice o ilustre engenheiro Leonel Brizola do PDT. Repitiria a oposição em 2002 a ser novamente candidato a presidente contra Lula (que foi eleito) e Serra (candidato do PSDB), colocando-se como uma alternativa para a polarização PT-PSDB. Com a eleição de Lula, Ciro foi convidado a ser ministro, responsável pelo projeto de Transposição das águas do Rio São Francisco, como meio de levar água para o sertão nordestino. Com isso, elegeu-se deputado em 2006, seu último mandato eletivo. Nas eleições subsequentes, progressivamente, Ciro foi se afastando do PT. Apoiou Dilma nos seus governos, porém já de forma indireta e crítica. Foi terminantemente contra o seu Impeachment (talvez um dos maiores acertos políticos de Ciro, mostrando sobretudo coerência), sendo um militante contra o governo do golpista Michel Temer, já nas fileiras do PDT de Brizola. Foi candidato pela 3ª vez a presidência em 2018, não alcançando o 2º turno polarizado por Fernando Haddad do PT e Jair Bolsonaro do PSL, sendo vencido por Bolsonaro. É oposição crítica e contumaz a Bolsonaro desde o início de seu governo, fazendo acusações sérias de quem conhece desde o tempo de Câmara Federal. Agora, tenta pela 4ª vez ser presidente do Brasil, colocando-se novamente como alternativa a polarização violenta entre a extrema direita, representada por Bolsonaro e a esquerda, representada por Lula.
Ciro se alicerça em uma de suas mais célebres obras literárias como seu plano de governo: O Nacional-Desenvolvimentismo. Ele elenca pontos e metas para um Brasil que tenha desenvolvimento pleno como equilibrio fiscal, nova ordem tributária, e mais investimentos públicos em áreas fundamentais, como Saúde, Educação e Segurança. Com isso, na suposição de seu livro, o Brasil chegaria a patamares de desenvolvimento como da Espanha em algumas décadas. Uma utopia em meu ver. Mas um ótimo livro do que deveria ser, não do que vivemos, visto que para se ter o "terreno" preparado para tal, medidas impopulares devem ser tomadas, desagradando gregos e troianos. Complicado se ter esse preparo e fôlego para tanto. Outro ponto a salientar sobre Ciro Gomes é o fascínio em falar do PT e de Lula. Ele milita do mesmo lado, na esquerda, mas se coloca como uma esquerda que tenta fazer conchavos com a direita, mas não consegue, porque esbarra no discurso intransigente dele, algo que Lula congrega mais. Em sequência, Ciro se coloca como o "nem um e nem o outro" se opondo a tendência do eleitorado brasileiro de não perder voto, ou seja o chamado "voto útil" que obrigatoriamente faz votar em Lula ou Bolsonaro.Tentou de todas as formas se unir com o centro político para ratificar a " 3ª via" que na prática nunca existiu. Hoje, está isolado, sem coligação e provavelmente caindo no ostracismo dos seus 10% que não passa disso. Triste, mas é a realidade.
Digo triste, porque sempre esperei que Ciro Gomes fosse um sucessor imediato do que Lula representa para a esquerda. Que toda a sua erudição e eloquência fosse um refino que o Brasil precissasse. O problema de Ciro foram suas escolhas. Sim, suas escolhas. Sempre optou a voar sozinho, contra tudo e todos. Sempre teve o discurso de que só ele prestava. Consequência disso: Isolou-se. Quando teria a chance de fazer um bem para o Brasil, evitando tudo o que esse Bolsonaro trouxe de desgraça, cruzou os braços, indo para Paris no 2º turno de 2018. Ele vir votar não justifica. Ele fez sua obrigação. O que não é admissível, é o país sofrendo um retrocesso e um dos estandartes contra isso cruzar os braços. Isso é largar a própria sorte seu povo. Isso diz muito de Ciro Gomes. Se hoje temos o desastroso e amargo governo desse abjeto, Ciro também tem sua parcela, talvez não de culpa, mas de não ter feito nada contra.
Quero deixar claro que admiro muito Ciro Gomes. Se fosse presidente, certamente seria meu ministro da Fazenda ou da Economia. Seu poder de decisão e argumentação é precioso para o momento de reconstruir esse país depois da água suja do Bolsonaro. O que me intristece é que Ciro não ajudará nisso. Novamente se calará, em seu chamado "apoio crítico" que no fim é nada dentro de nada. Só acredito que não irá para Paris dessa vez.
Um dia quero escrever a história de Ciro Gomes como um brasileiro notável. Por enquanto, ainda não dá. Muito por seu papel de estrela solitária sempre.
Mas uma coisa afirmo: O rei do Ceará não será rei do Brasil.
Uma pena, por ele, por causa dele, não será.
Muitas vezes pecamos por omissão, com a desculpa de se não ajudo também não estorvo.
ResponderExcluirEsse é um problema crônico do ser humano.
ExcluirÓtima análise.
ResponderExcluirObrigado! Segue nós para os próximos textos!
Excluir