Continuando nossa série que retrata e homenageia grandes brasileiros vivos ou que já partiram, hoje falaremos da coração valente, a ex- presidente Dilma Rousseff e o ícone que é e representa. Como de costume, se faz uma breve história da pessoa e alguns apontamentos que a coloca como um notável brasileiro.
Dilma Rousseff nasceu em Belo Horizonte em 1947. Interessou-se pelo socialismo desde cedo, principalmente pós- golpe militar de 1964. Jovem, entrou para a luta armada de esquerda como membra do Comando de Libertação Nacional (COLINA) e posteriormente na Vanguarda Armada Revolucionária (VAR- Palmares), ambas organizações contra o regime militar. Nos anos 70 foi presa pelo regime entre 1970 e 1972 primeiramente pelos militares da chamada Operação Bandeirante (OBAN) pelos quais foi torturada e posteriormente pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Logo após, mudou-se para o Rio Grande do Sul, onde formou-se em Ciências Econômicas pela UFRG. Na queda do bipartidarismo MDB-ARENA, foi uma das fundadoras do Partido Democrático Trabalhista (PDT) onde militou até 2000. Entrou na política através do ex- prefeito e ex-governador Alceu Collares de quem foi Secretária Municipal de Fazenda de Porto Alegre e Secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul nos governos de Collares e Olivio Dutra do PT. Em 2001, filia-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e participou da formulação do plano de governo da Frente Brasil Popular, encabeçada por Lula a presidência do Brasil em 2002. No início de 2003, foi escolhida para ser ministra de estado de Minas e Energia, cargo que exerceu até 2005, para ocupar a Chefia da Casa Civil, sucedendo José Dirceu, após os escândalos do chamado Mensalão, de Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto. Neste sentido, seu nome alavancou, sendo uma das mentoras do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) que lhe deu crédito para ser a sucessora de Lula. Elegeu-se presidente em 2010 e reeleita em 2014. Em 2016 sofreu o processo de Impeachment, sendo afastada definitvamente em 31 de Agosto de 2016. Após isso, retirou-se da vida pública, voltando a morar em Porto Alegre, levando uma vida simples e reservada. Em 2018, foi convidada a ser candidata a senadora por Minas Gerais, não se elegendo. Hoje, palestra pelo Brasil, e é do Conselho Consultivo da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT com caráter político-cultural.
Dilma entra para o rol dos brasileiros notáveis pela força, garra e coerência com que levou sua vida inteira. Desde cedo militou contra os regimes totalitários que se espalharam, principalmente o golpe dado neste país em 1964. Foi militante, que de corpo e alma defendeu o Brasil contra o golpismo e repressão que os militares impunham. Foi presa e torturada. Se existe quem possa contar de fato o que aconteceu nos porões da ditadura é Dilma. Mulher de fibra que suportou os horrores do regime, para que hoje se tenha liberdade mesmo que se tenha gente que levanta bandeira pela volta dos militares. Patético, e totalmente anti-histórico quem defenda que a tortura e picaretagem volte. Dilma resistiu a tudo isso com uma força inexplicável. Nunca se acovardou por ser mulher, ou pela tortura que lhe aplicavam, mas fazia disso seu combustível da luta. Ajudou a criar o PDT de Leonel Brizola, onde deu seus primeiros passos pelo caminho correto de quem quer lutar pela democracia: A política. Dilma fez escolhas muito coerentes em sua vida toda. Participou do projeto social mais bem sucedido que foi a Frente Brasil Popular que colocou Lula na presidência, tendo atuado ativamente em seu governo, mostrando que além de muito tecnica, conseguia dialogar com as forças políticas. Dilma se mostrava cada vez mais forte, e preparada para o que seria seu ápice político na presidência da república.
Com sua eleição, experenciou as delicias e os desabores da república. Manteve-se focada em seus princípios e projetos, que por vezes se colocaram de frente aos projetos do poder político. Foi arquitetadamente sendo destruida e seu governo perdendo força e poder, e mesmo com tudo isso, foi reeleita, mostrando que a mudança social provocada pelos governos de esquerda era reale sentida pelo povo. O problema que o processo de desmanche ainda estava a todo vapor. Com a mídia induzindo, aliado a traição de seus aliados, em conluio com seu vice, Michel Temer, intoxicados por um sentimento justiçeiro e de 4º poder da República que foi o Ministério Público e parte do judiciário, com a nefasta Operação Lava jato, Dilma foi golpeada por um factóide fumacento e sem sentido. O que me admira nela, foi a serenidade com que se colocou em tudo o que faziam contra si. Serenidade de quem não devia nada. Saiu da presidência, não como saira Collor em 92, pela porta dos fundos. Saiu com o sentimento de que fez o que deveria fazer e que não devia nada. Nisto mostra uma característica muito marcante em Dilma: A coerência. Algo que os que estão no governo, não tem e nunca terão. Coerência é vida, não momento.
Dilma é exatamente como seu jingle de campanha de 2014 falava: Coração valente. Não se amedrontou frente a tudo que lhe acontecera. A vida lhe fez assim, valente e coerente.
Recordo suas palavras ao sair da presidência em 2016, como uma forma de profetismo e que de fato aconteceram de forma muito rápida e implacável:
“O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social”,
O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”,
“O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido”.
É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo.
Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.
Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.
Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.
Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.
E como foi implacável. A História contará o que fizeram com Dilma e todo o mal que fizeram com o Brasil.
Para mim, sempre será a 1ª mulher presidente de nosso país, a mulher corajosa e coerente do Brasil. Não poderia ficar de fora do rol dos grandes brasileiros, pelo que fez, faz e principalmente a representação que tem.
Dilma! Coração Valente!
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