Ainda em processo de organização da vida após as recentes mudanças, por vezes, me faço distante daqui. Prometo me organizar melhor e tentar ao menos quinzenalmente escrever, refletir e expôr aquilo que acredito ser pertinente para a época. Hoje, vamos debater sobre a necessidade humana pós-moderna de ser visto, de estar em evidência e o quanto nos afeta e implica em nossos costumes, hábitos e virtudes.
Retirei o assunto de um trecho de uma fala do filósofo Luiz Felipe Pondé que usa-se da psicanálise para refletir sobre o quanto as pessoas tem a necessidade de serem notadas, de serem vistas. Ele assevera que a existência humana é condicionada a medida que os outros nos vêem. Portanto, eu existo na visão dos outros. O mundo pós moderno, de cidades grandes, de fluxos enormes induzem a sensação de invisiblidade. Nisto, as redes sociais cumprem o papel de arrastar o indivíduo do anonimato para a notoriedade de forma instantânea, porém a contra-mola na mesma rapidez. Neste sentido, o ser humano é lançado por este turbilhão que gera as neuroses, paranóias e por ai vai. Esse fluxo imediato desestabiliza a condição natural do humano.
Quando se olha para as instituições fixas da sociedade que se percebe o quanto estamos mergulhados neste caos. Usando as teorias de Michel Foucault, filósofo francês contemporâneo, entenderemos o quanto o setor educacional, e mais diretamente o ambiente escolar é afetado por isso. Aqui, faz-se necessário abrir uma ressalva de que as tecnologias vieram para auxiliar tanto o professor em sua tarefa de lecionar, quanto na apreensão de conhecimento por parte do discente. Porém, essa inundação tecnológica também tem seu desafeto na dicotomia entre o imediatismo de ação versus a assimilação de conteúdo. A educação tem por princípio que as coisas ditas se fixem para o aluno em forma de absorção de conhecimento. A tecnologia, pela forma instantânea que carrega, praticamente nada se fixa, tudo se "liquefaz" de forma rápida diria Bauman. Nisto, pende-se a sociedade pós-moderna: Poucas coisas ficam e se fixam, mas somem na rapidez que vieram. Isto perpassa o processo educacional, mas se estende nos comportamentos coletivos e assim por diante.
A necessidade de estar em evidência vem de encontro com esse processo maquínico do ser visto permanentemente. As redes sociais são os meios que alguns acharam para canalizar essa necessidade mal preenchida e mal resolvida. É fácil de se perceber quando olhamos aqueles que postam toda a sua vida cotidiana nas redes, chamando seus seguidores de "família", como se realmente quem está do outro lado da tela fosse parte íntima de sua vida. A ncessidade de evidência é um vicio. Enquanto está nas "trend topics" está satisfeito, saiu entra em abstinência. Nos anos 80 eram as drogas o mal maior que atingia a juventude em cheio, hoje o vicio mudou do aceso pelo fogo para o ligado na tomada. Atentai a isso.
Como Pondé brilhantemente ponderou, as pessoas perderam o sentido de serem únicas, e terem a noção de si, do seu ser em necessidade que o outro às enxergue. Ou seja, só me sinto pertencente a algo, ou grupo de acordo com a avaliação dos demais. Fora disso perco a noção de identidade. Isso é muito perigoso. Perder a noção de identidade, faz com que rasgamos a História construída, e não tenhamos a noção para onde estamos indo. Pertencimento é uma chave que não se pode trocar, quem dirá perdê-la.
Que o ser humano mergulhado na neurose coletiva pós-moderna possa emergir e ver a realidade como ela é. Que possa sair do vicio do imediatismo de ser visto e viver o permanente, o real, o concreto, aquilo que a vida é.
O real é sempre um concreto armado.
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