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Javier Milei: O pesadelo não acabou

 Retomando nossas reflexões, o que nos toma a atenção neste momento é o resultado das eleições gerais na Argentina.  A América do Sul historicamente se equilibra entre governos alinhados mais a esquerda e momentos mais a direita. O que se repete como fenômeno é movimentos fora da curva, como foi do Bolsonaro no Brasil e agora com a eleição de Javier Milei na Argentina. São movimentos que se repetem e merecem análise. 

Longe de mim fazer uma análise de nossos vizinhos morando aqui no Brasil, porque detesto os que comentam fatos acontecidos no Brasil morando em Nova York (estilo Manhattan Connection) mas, visto os fatores históricos, é necessário se fazer uma análise mais profunda do que levou um ultraliberal, anarco- capitalista e extrema direita como Milei ascender ao poder. 

Um  fator é a profunda crise econômica em que vive a Argentina. E não é de hoje. Não é culpa dos Peronistas ou dos Contra- Peronistas. É um contexto mais longevo, que vem de bloqueios velados desde o fim da 2ª Grande Guerra. Mas desde a redemocratização, em meados do anos 80, alterna-se governos de espectro de direita e esquerda e nada conseguem fazer para resolver o problema econômico que vive os hermanos. Se contarmos desde Carlos Menen (alguém que Milei simpatiza) onde a Argentina viveu uma das mais devastadoras crises no início do novo milênio e seu governo se colocava contra o Peronismo, corrente ideológica histórica advinda de Juan Domingo Peron e sua esposa Eva "Evita" Peron. Com essa herança, Menen passa a seu sucessor, Fernando De La Rua que não suportou a recessão argentina e renunciou. Entre idas e vindas, o peronismo retornou a Casa Rosada com os governos de Néstor Kirchner e sua esposa e sucessora, Cristina Kirchner. Muito se avançou no país com o casal Kirchner, porém ouve a criação de um movimento paralelo ao histórico peronismo, o "kirchnerismo" que custou uma continuidade, visto que a condição econômica ja batia novamente em uma crise como visto no início dos anos 2000.  Nesta condição, elegeram Maurício Macri, um liberal que tentou desmontar a estrutura de estado, na esteira do Neoliberalismo, porém sem sucesso. Foi sucedido na alternância com um peronista raiz, Alberto Fernandez com a vice-presidente a Cristina Kirchner. A Argentina afundou-se em sucessivos erros de condução, principalmente econômica, inviabilizando Fernandez para a reeleição. Quem foi incubido de representar a centro-esquerda foi Sergio Massa, Ministro da Fazenda, responsável pela calcanhar de aquiles do peronismo kirchnerista: A Economia. Olhando toda essa condição, entende-se o desespero do povo argentino. Aquele que gritou mais, levou. Aquele que falou algo diferente, ao que se arrasta a anos, levou. 

Esse descrédito desesperado do povo é mais que natural. Se algo não está dando certo se alterna, se troca. O problema é o condicionante: O desespero. Esse cega as pessoas. Faz o inconsciente coletivo trabalhar contra si, se autosabotando. Votar em Milei é um ato de fim de linha. Não se enxergou os entretantos e porquês, mas apenas que era diferente. Consequência do desespero em âmbito coletivo.

O que se esperar de alguém que supostamente quer fechar o Banco Central, privatizar o Estado praticamente por completo, acabar com a moeda local, adotando o Dólar como moeda corrente ? Não sei. Já experimentamos algo parecido por aqui. Não deu muito certo. Espero que os argentinos sejam resilientes com tudo o que acontece e possam resistir a tudo que está por vir. É um devaneio acreditar que melhorará. É  um sonho de uma noite de verão. Milei se apegou em algo mais vil e baixo que pude ver: No desespero de um povo. Vende algo que jamais poderá entregar. Condenou um país que já vive um processo de desmanche e pobreza a uma limpeza etnica, onde apenas o rico terá condição do básico. Javier Milei representa aquilo que nunca deu certo, nem em teoria do neolibralismo: O Estado Mínimo. Enquanto existir desigualdade, há de haver o Estado para intervir. Quando não haver mais o estado, o pobre está enfadado ao extermínio. 

Que o povo argentino seja forte e resiliente. Serão anos difíceis. O Peronismo retome as bases, refaça seu discurso e volte mais conectado com aqueles  que mais precisam dele. O Kirchnerismo se acabou. Talvez, aqui um devaneio meu, porcausa dele tenha criado uma figura como Milei. Que entenda tudo o que aconteceu, perceba as culpas e faça uma autocrítica de sua necessidade e figuração política. A Argentina sucumbirá. Mas é um povo. Jamais se acabará. 

Nós aqui no Brasil já experimentamos o extremismo. Entendemos o que isso nos causou. Que seja um momento curto e que a Argentina, povo forte e hermano retome o caminho perseverante e próspero. 

Como disse, são sinais que esse pesadelo extremista não acabou. Sejamos atentos e vigilantes aos sinais. 

Resistência Argentina!

Hala Argentina, y nada más!!!



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