Retomando nossas reflexões depois de um início do ano de 2024 turbulento, abordamos pontos de discussão necessárias para um ser inquietante. Hoje, se planta a semente da dúvida a partir da junção entre psicanálise, filosofia e vida concreta, no convite feito por Morpheu a Neo no filme " Matrix" retomado pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek como título de uma de suas célebres obras : Bem-vindos ao deserto do real.
Para darmos inicio, necessário se faz entender essa afirmação. Falar sobre o deserto primeiramente. Ver a condição extrema como uma oportunidade de reflexão. Ver a metáfora do deserto como algo que nos desloca, nos provoca. O deserto é algo que no inconsciente nos faz ver a necessidade última, aquilo que está no íntimo, na estrutura do substrato último: As necessidades básicas. Quem está no deserto basicamente se preocupa com água, elemento último e vital para qualquer ser vivo. Portanto reconhecer o deserto é reconhecer as reais necessidades que o humano tem. É despir-se. É retomar aquilo que é importante. Aquilo que é necessário, renunciando aquilo que é contigente.
Quando se fala do deserto do real, se estabelece que aquilo que o indivíduo vive até aquele momento é apenas sombras. É um retomar da Alegoria célebre de Platão, onde aqueles que estavam acorrentados na caverna apenas viam as impressões das coisas, não elas em si. Deparar-se com o real é um chicote da vida pura ao que chamamos de " Vida". O mundo em que estamos inseridos nos faz viver de aparências, das máscaras como diria Jung, ou de uma vida simulada, de uma realidade pautada em simulacros, como diria Baudrillard, consciência paralela aquilo que é o real. O problema é que a realidade tem tempo e espaço. O real é multidimensional e atemporal. Ele é. Sempre presente. Ele estica a corda da vida efêmera humana. O ser humano controla a realidade. O real está acima de qualquer poder, qualquer controle, qualquer moral. O real é concreto, áspero, armado. O real salta aos olhos.
Um dia escrevera Humberto Gessinger uma canção chamada " Piano Bar" e um dos versos diz: " Toda vez que falta luz, toda vez que a luz falta, o invísível nos salta aos olhos." É na ausência de algo vital que o real aparece. Despido, cristalizado. A ausência nos faz reconhecer a necessidade verdadeira.
O convite feito por Morpheu a Neo desejando boas vindas ao chão áspero da vida muito nos diz. O convite feito pelo filósofo esloveno Zizek também retoma essa ideia. O homem precisa constantemente ser arremessado contra esse chão áspero do real. Ali mora a vida. Ali a vida concreta se apresenta.
Bem- Vindos ao deserto do Real nos aponta que devemos reconhecer as situações que a vida apresenta as asperesas dela. Nunca devemos negar o real. O ponto em que negamos aquilo que salta aos olhos, estamos imersos na ilusão, nos simulacros, na realidade. O problema instaurado ao ser humano é que o real é. Aqueles que se afundam na mentira se afogam na ilusão. Viver as dimensões do realidade é para todos. Reconhecer o real é para poucos.
Bem- vindos ao deserto do real é um convite provocativo. Mas, não deixa de ser um convite. Alice foi convidada pelo coelho. Reconhecer o real é algo que nos agride, mas temos o poder de optar em querer ou não.
Portanto, caros eleitores, deliciem-se, mas:
Bem-Vindos ao Deserto do Real!
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